O setor têxtil brasileiro é um dos mais representativos da economia nacional, tanto pelo impacto na geração de empregos quanto pelo peso nas importações e exportações.
Em 2024, a indústria têxtil e de confecção faturou mais de 210 bilhões de reais, consolidando-se como uma das maiores cadeias produtivas do país. Contudo, por trás desses números expressivos, esconde-se uma realidade de desafios estruturais e oportunidades estratégicas que podem reposicionar o Brasil como player global relevante no comércio exterior têxtil.
As importações de produtos têxteis ultrapassaram 6,6 bilhões de dólares em 2024, um aumento de quase 15% em relação ao ano anterior, enquanto as exportações recuaram cerca de 5%. O déficit na balança comercial atingiu 5,7 bilhões de dólares, reflexo de uma dependência crescente de fornecedores internacionais, sobretudo da Ásia, liderada por China e Vietnã. Esses países dominam o fornecimento mundial graças a escala produtiva, custos reduzidos e investimentos massivos em tecnologia.
Para o Brasil, esse quadro representa tanto um desafio quanto uma oportunidade. A indústria nacional luta para ser mais competitiva diante de custos de logística elevados, carga tributária complexa e baixa eficiência produtiva, que resultaram em perdas estimadas em mais de 40 bilhões de reais em 2024. Se essas ineficiências fossem corrigidas, o faturamento do setor poderia ter ultrapassado 250 bilhões de reais no mesmo período.
Segundo o empresário Gustavo Schelbauer, com mais de 15 anos de experiência no comércio exterior, é preciso olhar para esse cenário sob a ótica estratégica. “O Brasil não pode competir apenas por preço. Nosso diferencial precisa estar em inovação, integração de cadeias de fornecimento e na construção de uma indústria sustentável e moderna. É isso que pode atrair investimentos e consolidar o país como player de relevância no cenário global”, avalia.

O consumo interno é uma das forças que sustentam essa visão. O Brasil tem uma das populações mais jovens e conectadas do mundo, altamente influenciada por tendências de moda globais. Isso cria um mercado consumidor vibrante e em constante crescimento, capaz de atrair fornecedores internacionais, mas também de sustentar o fortalecimento da indústria nacional. A questão central é se o país conseguirá transformar esse potencial em competitividade real.
Para investidores globais, o Brasil é um mercado que combina risco e oportunidade. O risco está na instabilidade macroeconômica, na burocracia tributária e nos gargalos logísticos que elevam custos e reduzem margens. Já a oportunidade está na dimensão do mercado consumidor, na posição geográfica estratégica e no espaço para parcerias entre empresas nacionais e internacionais.
Schelbauer acredita que a chave para esse reposicionamento está na criação de políticas públicas que reduzam a burocracia, incentivem a modernização tecnológica e fortaleçam parcerias estratégicas. “O Brasil tem potencial para ser mais do que um grande importador. Pode ser um hub de inovação e distribuição têxtil para toda a América Latina. Mas, para isso, precisamos de visão de longo prazo e comprometimento de toda a cadeia produtiva”, conclui.
O futuro do setor têxtil brasileiro será definido pela capacidade de unir eficiência operacional, políticas de incentivo e visão estratégica. Se bem conduzido, o país poderá reduzir sua dependência externa, aumentar sua relevância no comércio global e se consolidar como um polo estratégico para investidores que enxergam no Brasil não apenas um mercado consumidor, mas também um parceiro de longo prazo para inovação e competitividade.