Chanel desfila renovada em Semana de Moda de Paris – 07/10/2025 – Ilustrada

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Chanel desfila renovada em Semana de Moda de Paris - 07/10/2025 - Ilustrada

São dois os termos mais em voga na moda hoje: “código” e “arquivo”. Na temporada definitiva para a sobrevivência do prêt-à-porter internacional, encerrada oficialmente hoje, em Paris, consagrou-se quem navegou com habilidade, respeito, coragem e talento por esse locus.

É neste contexto que são avaliadas as coleções de tantos nomes estreantes em grandes maisons, a tal dança das cadeiras feita pelos principais agentes do planeta para renovar o interesse em geral pelo que acontece a partir das passarelas.

Iniciada no mês passado, a estação vem sendo chamada de “september to remember”, um mês a ser lembrado, e que se estendeu até outubro. Na segunda, dia 6, a cereja do bolo foi colocada pela Chanel, com a primeira apresentação de Matthieu Blazy na histórica casa francesa.

O estilista de 41 anos, nascido em Paris e egresso do êxito obtido em cerca de quatro anos na Bottega Veneta, fez história neste fim de semana no posto que pertenceu a Karl Lagerfeld, o lendário criador alemão que remixou e atualizou os elementos do estilo Chanel para a contemporaneidade.

Blazy conseguiu alcançar o sucesso ao alinhar os desejos do hoje em peças factíveis, encantadoras, atualizando linhas e técnicas com as expectativas da grife. Ele reverencia o passado com a atitude certa, reinterpretando o que é do DNA da maison. A saber: não apenas o uso de materiais como o tweed e o jérsei, das camélias e das pérolas, do vestido preto clássico, também da apropriação de elementos do guarda-roupa masculino, linguagem de que Gabrielle Coco Chanel foi pioneira, em seu tempo.

A responsabilidade era grande e, em torno do desfile, era grande também a torcida. Ao final, ele entrou sob uma ovação no Grand Palais (cenografado como o espaço cósmico) eternizando o momento junto da performance da última da fila, Awar Odhiang, modelo-sensação nascida num campo de refugiados na Etiópia. Ali, feliz da vida, ela rodopiava sorridente pelo salão, e abraçou o estilista, em cena. Um pouco de espontaneidade, enfim, nesse universo que celebra diariamente o carão, os pré-conceitos e as empáfias.

A grande sacada: alegadamente intimidado pelos “arquivos”, na Chanel um verdadeiro patrimônio (cultural, no sentido estrito da palavra), ele se voltou para Mademoiselle Chanel em si, seu espírito, seu arrojo, sua liberdade, de maneira rica nos detalhes e verdadeira na essência.

Outro acerto, este da gestão: o jovem estilista teve quase um ano, desde o anúncio de sua entrada, até sua estreia, para chegar até aqui. Bons resultados provêm de tempo e organização.

Em termos de matéria-prima e técnicas, Blazy alcançou a excelência, e deixa uma trilha de ainda mais expectativa para sua alta-costura. Nisso tudo, ele foi o mais bem-sucedido da estação, agora oficialmente considerada histórica. Superou até mesmo a estreia do feminino de Jonathan Anderson na Dior, logo nos primeiros dias dos desfiles parisienses. Estilos e abordagens diferentes. Anderson (que é britânico) parece querer de saída estabelecer seu próprio culto, escrever a sua partitura com mais pressa. Reinterpreta códigos e formas com uma pegada mais jovem, querendo ser “mais cool”.

E é. Trabalha sobre laços, sobre formas oriundas de vestidos famosos feitos por Monsieur Dior e enxuga suas proporções. Essa é sua maneira de “atualizar os códigos”. Anderson enche a passarela de jeans e minissaias, o comprimento escolhido para, numa versão plissada, apresentar seu New Look, encolhido também na jaqueta Bar, criada originalmente em 1947. Em vestidos-mantôs mais curtos, a proposta fica fresca.

Em sua esperada estreia na Balenciaga, o italiano Pierpaolo Piccioli propõe o que chama de “recalibragem” da maison aos tempos atuais, a partir da forma de um vestido de 1957, o Sack, em sua aparente simplicidade ou descomplicação. Vindo da Valentino, Piccioli aparentemente não quis produzir muita marola e foi para um lado mais seguro. Só que agora, queremos o tudo ou nada. Mais, mais, grita a moda.

Nada maior do que os laçarotes, as mangas bufantes e os babados de Anthony Vaccarello em sua Saint Laurent, que abriu a semana aos pés da Torre Eiffel. Tem desejo ali, e paixão pela moda. A isso se somam o mais puro tesão, o sexo, o mistério e a luxúria do luxo absoluto presentes na interpretação de Tom Ford feita por Haider Ackermann (nascido na Colômbia e adotado por pais franceses, formado na escola da Antuérpia).

Um mergulho no mar à meia-noite, assim ele definiu sua coleção ultra sofisticada, de linhas rigorosas e precisas, desfiladas como uma performance de arte. Um show de interpretação dos tais códigos (aqui: o vestido-coluna, o couro, o trench, o stiletto, a boca de vinil, o gel, e o sexo). Tom Ford nunca viu suas ideias tão bem executadas.

Jack McCollough e Lazaro Hernandez (ex-Proenza Schouler) sobreviveram à sua primeira temporada na Loewe, entrando no lugar esquentado por Jonathan Anderson. Já na Valentino, o italiano Alessandro Michele (ex-Gucci) parece ainda tatear seu caminho, em uma apresentação de modelos frágeis, quase claudicantes, que sob lâmpadas que piscam procuram o céu. Ele cita “A Sobrevivência dos Vagalumes”, de Georges Didi-Huberman, a partir do artigo de Pasolini escrito em 1975 em que os insetos representam resistência cultural e política frente ao poder dominante.

Do lado dos japoneses, máximo respeito, e é o mestre Yohji Yamamoto que, aos 82 anos, vem sendo reverenciado, alcançando status de entidade. Ele é dos que criticam a indústria: “A moda se tornou uma piada. É só sobre dinheiro. As grandes companhias são como garotos jogando futebol, apenas correndo atrás da bola”, esbraveja. Ao se levar em conta sua experiência, alguma razão tem.



Fonte ==> Uol

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