Parentalidade e liderança o que gestores podem aprender com os pais e educadores sobre empatia e desenvolvimento humano

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No mundo corporativo, o conceito de liderança está mudando. Cada vez mais, o sucesso de um gestor é medido não apenas por metas e resultados, mas pela capacidade de inspirar, ouvir e desenvolver pessoas. Essa transformação aproxima a liderança de um terreno antes restrito às famílias e escolas: a parentalidade. O modo como pais e educadores se relacionam com as crianças, ensinando, corrigindo e acolhendo, tem muito a ensinar sobre gestão de equipes e comportamento humano.

De acordo com pesquisa da consultoria Gallup, líderes que aplicam princípios de empatia e escuta ativa têm 23% mais engajamento em suas equipes e 17% mais produtividade. A explicação é simples: um ambiente de confiança e comunicação clara favorece o aprendizado e a colaboração, algo que psicólogos infantis e educadores já praticam há décadas.

Para a psicóloga infantil e educadora parental Bruna Campos Teodoro da Silva, que há mais de dez anos ajuda famílias e escolas a fortalecer vínculos e desenvolver habilidades emocionais, a liderança corporativa tem muito em comum com a parentalidade consciente. “Liderar uma equipe é, de certa forma, educar adultos. Envolve acolher, orientar, ensinar e criar um ambiente em que as pessoas se sintam seguras para errar e aprender”, explica.

A especialista acredita que as bases da liderança moderna estão na mesma estrutura que forma o vínculo entre pais e filhos: comunicação empática, presença e constância. “Pais e gestores enfrentam desafios parecidos. Ambos lidam com pessoas que têm necessidades, medos e expectativas. A diferença está na forma de conduzir: quem lidera com empatia constrói relações sustentáveis e gera resultados consistentes”, afirma Bruna.

A psicologia tem sido uma aliada fundamental na construção desse novo modelo de gestão. Estudos da Harvard Business Review mostram que líderes emocionalmente equilibrados influenciam diretamente a saúde mental de suas equipes, reduzindo estresse e fortalecendo o senso de pertencimento. Esse tipo de vínculo é semelhante ao que ocorre entre pais e filhos quando há confiança e coerência na relação.

Bruna explica que os princípios da parentalidade consciente, quando aplicados ao ambiente corporativo, ajudam a equilibrar autoridade e empatia. “Ser líder não é ser permissivo, assim como ser pai ou mãe não é apenas acolher. É sobre estabelecer limites com respeito e dar autonomia com orientação. Esse é o equilíbrio que constrói tanto bons adultos quanto boas equipes”, comenta.

A especialista também observa que o mundo corporativo, assim como as famílias, está aprendendo a valorizar o diálogo. “As gerações mais jovens não respondem à liderança baseada no medo ou no controle. Elas buscam líderes que escutem, que sejam coerentes e que demonstrem vulnerabilidade. Isso é o que pais conscientes fazem: lideram pelo exemplo”, explica.

A relação entre parentalidade e liderança vai além da analogia comportamental. Ela envolve também uma mudança de mentalidade em direção à humanização dos relacionamentos. Gestores que compreendem os princípios do cuidado e da escuta constroem times mais leais, criativos e produtivos. “O líder que se conecta com o ser humano antes do cargo tem mais chance de formar uma equipe forte. É o mesmo princípio da parentalidade: quando a criança se sente vista, ela se desenvolve melhor. O mesmo vale para um colaborador”, diz Bruna.

Esse olhar humanizado não elimina a necessidade de resultados, mas redefine o caminho até eles. Ao aplicar a empatia, a escuta ativa e a clareza emocional como ferramentas de gestão, líderes constroem ambientes de alta performance e baixo desgaste. “O líder que inspira é aquele que ensina com presença, corrige com respeito e celebra com gratidão. Isso é a base de qualquer relacionamento saudável, dentro ou fora do trabalho”, reflete Bruna.

A aproximação entre a psicologia e a liderança organizacional reflete uma tendência global de transformação cultural nas empresas. Em um mundo que valoriza propósito e saúde mental, gestores que entendem de pessoas, e não apenas de processos, se tornam cada vez mais estratégicos. “A liderança do futuro é pedagógica. O bom líder será aquele que aprende e ensina ao mesmo tempo”, conclui.

O paralelo entre parentalidade e liderança mostra que o verdadeiro sucesso está em saber guiar sem dominar, inspirar sem impor e construir laços sólidos que resistam às mudanças. Nas famílias ou nas empresas, o segredo é o mesmo: toda relação de confiança nasce de empatia, diálogo e presença.

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