Um presente para a China?

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Um presente para a China?

O Observatório Vera C. Rubin fica no Deserto do Atacama, no Chile. É uma estrutura de oito andares voltada para pesquisas de ponta, financiada pelo governo dos EUA, mas que também abriga astrônomos chilenos. 

O telescópio do Rubin possui uma enorme câmera de bilhões de pixels e é capaz de mapear todo o céu noturno a cada quatro dias, o que o coloca muito além de qualquer outro dispositivo terrestre individual. 

O Rubin está em fase de testes e deve iniciar operações formais em outubro. Depois disso, espera-se que ele reúna mais dados astronômicos em um único ano do que todos os outros observatórios semelhantes reuniram ao longo da história. 

O observatório fica em um pico no deserto do Atacama
(Imagem: RubinObs/NOIRLab/SLAC/NSF/DOE/AURA)

Mas há um problema: o Observatório Rubin não pode fazer tudo sozinho. Seu telescópio de campo amplo é excelente para detectar objetos, mas os pesquisadores precisam de outra ferramenta para estudá-los em profundidade, buscar vida em outros sistemas solares e examinar galáxias em formação. O projeto que atenderia a essa necessidade é o Telescópio Gigante Magalhães (GMT), localizado cerca de 130 km ao norte do Rubin. O GMT ainda está em fase inicial, e o local se assemelha mais a uma série de grandes buracos no chão, com alguns prédios de apoio e infraestrutura de serviços.  As informações são do site Bloomberg.

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O impacto dos cortes na Fundação Nacional de Ciência

Os cortes feitos pelo governo de Donald Trump no financiamento federal para pesquisa científica podem ameaçar o funcionamento e a conclusão dos dois projetos. 

A National Science Foundation (NSF) gastou quase US$ 600 milhões para ajudar a construir o telescópio Rubin, com o Departamento de Energia contribuindo com cerca de US$ 320 milhões adicionais. Operá-lo deve custar cerca de US$ 80 milhões por ano. Quanto ao GMT, parceiros privados — principalmente grandes universidades dos Estados Unidos — bancaram a maior parte do primeiro bilhão de dólares em custos de construção. No entanto, o projeto GMT precisará de até US$ 1,3 bilhão da NSF para concluir a construção e começar a operar até 2035. 

Observatório Rubin já detectou mais de 2 mil asteroides em uma semana
(Imagem: RubinObs/NOIRLab/SLAC/DOE/NSF/AURA/W. O’Mullane)

Este ano, a NSF foi atingida pelos cortes de Trump, que são criticados até por conservadores. 

As principais consequências da redução do orçamento foram: 

  • Redução da força de trabalho de cerca de 1.800 funcionários e contratados para cerca de 1.100, segundo o sindicato que representa os trabalhadores. 
  • Corte de metade do orçamento previsto para 2026. 
  • Queda significativa no financiamento de bolsas para pós-doutorandos e estudantes de pós-graduação. 
  • Dificuldade para atrair e manter jovens pesquisadores, essenciais para operar e analisar os dados dos observatórios. 
  • Risco de comprometimento da construção do Telescópio Gigante Magalhães (GMT), que depende do financiamento da NSF. 

O conselho que supervisiona o projeto GMT afirma estar comprometido em financiar privadamente a atual fase do projeto e buscará ampliar sua lista de parceiros internacionais, que já inclui instituições de pesquisa da Austrália, Brasil, Coreia do Sul e Taiwan. 

Astrônomos dos EUA alertam que reduzir o apoio ao GMT e a outros projetos baseados no Chile pode significar ceder à concorrência internacional a próxima geração de descobertas impulsionadas por telescópios. Isso inclui a China, que já instalou um observatório de rádio na Argentina e está trabalhando em outro projeto de telescópio óptico no Deserto do Atacama — embora ainda esteja aguardando aprovação do governo chileno. Esse telescópio não deve ser tão poderoso quanto os dos EUA ou da Europa, pois provavelmente será menor, embora seu tamanho exato ainda seja desconhecido. O governo chinês já demonstrou que consegue alcançar rapidamente os concorrentes, afirma Rebecca Bernstein, cientista-chefe do projeto GMT. Em seu próprio território, a China está construindo o maior radiotelescópio de prato único do mundo, com uma área de recepção equivalente a 30 campos de futebol. Se os EUA não concluírem o GMT para estudar as descobertas da equipe do Rubin, diz Bernstein, “tudo o que você fez foi encontrá-las e disponibilizá-las para seus concorrentes”. 

O porta-voz da NSF afirmou que ainda há bastante financiamento disponível. “A NSF continua investindo fortemente em programas que apoiam estudantes, pesquisadores em início de carreira e pesquisas de ponta”, disse. “Continuamos focados em garantir que os EUA permaneçam líderes globais em ciência e inovação.” 

O poder dos telescópios 

Para dar um exemplo da diferença que essas instalações de ponta podem fazer: os telescópios do mundo normalmente descobrem cerca de 20 mil asteroides em nosso sistema solar por ano. Durante uma semana de testes em junho, o Observatório Rubin detectou mais de 2 mil sozinho, incluindo sete classificados como objetos próximos da Terra. “Tudo o que sabemos representa apenas 5% do universo”, observa Karla Peña, especialista sênior em observação no Rubin. Em sua lista de tarefas está mapear os limites da Via Láctea além do nosso sistema solar, o que pode ajudar a identificar outros planetas capazes de sustentar vida. 

O aglomerado estelar Messier 21, registrado pelo Observatório Vera C. Rubin (NSF–DOE)
(Imagem: RubinObs/NOIRLab/SLAC/NSF/DOE/AURA)

Por enquanto, o projeto GMT continua desenvolvendo componentes para seu futuro megatelescópio. O equipamento exige sete espelhos que, segundo os líderes do projeto, estão entre os maiores já construídos em uma única peça de vidro, cada um com cerca de 8,5 metros de diâmetro. Os espelhos levam até quatro anos para serem fabricados, e há apenas um forno no mundo capaz de produzi-los — localizado sob o estádio de futebol da Universidade do Arizona. 

Enquanto o telescópio Rubin passa por testes finais antes de entrar em operação, todos os dados captados são armazenados em um laboratório nos Estados Unidos. Para investigar possíveis anomalias, será necessário utilizar outros telescópios localizados no Chile. 

Apesar do avanço técnico, há preocupações com o financiamento operacional do observatório. A equipe teme que os cortes no orçamento federal comprometam a continuidade do projeto, especialmente diante da contradição entre o discurso de liderança científica dos EUA e a redução dos investimentos em ciência. 

Fonte Olhar Digital

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