A Mostra Internacional de Cinema em São Paulo sempre teve conexão com a literatura, natural dada a frequência com que livros viram filmes. Mas, neste ano, com o pôster assinado pelo escritor português Valter Hugo Mãe, parece ir um passo além.
A diretora da Mostra, Renata de Almeida, conta que decidiu convidar o lusitano mais pop do Brasil para fazer a arte desta edição do festival —que começa na próxima quinta, dia 16— ao ver o documentário “De Lugar Nenhum”, que acompanha seu processo criativo.
O filme dirigido por Miguel Gonçalves Mendes, mesmo cineasta de “José e Pilar”, o retrato de Saramago com sua hoje viúva, estará na programação. Também será exibido pela primeira vez “O Filho de Mil Homens”, adaptação do brasileiro Daniel Rezende para a obra do escritor, fruto de uma parceria entre a Mostra e a Netflix que tem sido bem-sucedida.
Há outros diálogos curiosos com a literatura em filmes deste ano —”Dalloway” acompanha uma escritora chamada Clarissa que tenta resolver seu bloqueio com ajuda de inteligência artificial, e “Os Papéis do Inglês” tem roteiro de José Eduardo Agualusa para uma jornada épica do escritor Ruy Duarte de Carvalho. Mas talvez os mais interessantes aconteçam fora das telas.
Desde 2019, a Mostra oferece um palco robusto para que editores e até autores façam “pitching” a produtores de cinema, uma breve apresentação buscando seduzir interessados em realizar adaptações cinematográficas. É parte do ciclo “Da Palavra à Imagem”, que neste ano será no próximo dia 25, um sábado, na Cinemateca.
Foi nesse espaço, por exemplo, que a Gullane comprou no ano passado os direitos para adaptar “De Onde Eles Vêm”, romance mais recente de Jeferson Tenório. Também houve disputa pela adaptação de “Contra Fogo”, do brigadista ambiental Pablo Casella, comprado por um serviço de streaming.
“Tanto do cinema vem de adaptações literárias”, diz Renata de Almeida. “O que tentamos fazer é ajudar nessa aproximação.”
LEGALMENTE AUTORA Falando nisso, a Arqueiro comprou os direitos para publicar a primeira ficção da atriz e produtora Reese Witherspoon, escrita em parceria com o popstar do suspense Harlan Coben. “Gone Before Goodbye”, ou “partida antes do adeus”, é um thriller de conspiração centrado em uma médica militar. Nos últimos anos, a atriz oscarizada se aproximou com vigor da literatura por meio de seu clube de leitura ultrapopular e sua empresa voltada a adaptar tramas de mulheres. O livro sai no Brasil em março.
CESSAR-FOGO A WMF Martins Fontes publica também em março o best-seller sobre Gaza do jornalista Omar El Akkad, que acabou de ser indicado ao National Book Award. O livro se chama “One Day, Everyone Will Have Always Been Against This”, algo como “um dia, todo mundo terá sido contra isso desde sempre”. O autor, que imigrou do Egito para o Canadá, argumenta que os princípios que fundam a sociedade americana são uma mentira, nesta “carta de término com o Ocidente”.
MAIS UM FESTIVAL A coluna passada falou de muitos festivais literários que estrearam pelo Brasil neste ano —e são tantos que não dá para citar todos. Mas vale incluir uma região que ficou de fora, o Centro-Oeste, que recebe neste mês a nova Bienal Pantanal. O evento vai até este domingo, dia 12, em Campo Grande.
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Fonte ==> Uol